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Escrita reflexiva – Nível 4

 

 

Nível 4 - Escrita Reflexiva II

 

Estou escrevendo isso no meu escritório. Tudo aconteceu há 2 dias.

Três semanas após começar a trabalhar aqui na PLC, precisei participar em um dos pontos da agenda para a reunião da equipe. Me pediram para fazer um relatório sobre os progressos do projeto no qual estou trabalhando. Estou desenvolvendo uma nova base de dados para o sistema de gestão de informações da empresa. Eu já fiquei preocupada. Estava com medo de não dizer as coisas certas e de não ser capaz de responder as perguntas adequadamente. Eu já tinha feito uma apresentação em um curso na universidade e sentido o mesmo sobre ela inicialmente. Por isso pensei, tanto na época como desta vez, em poderia usar minhas habilidades como atriz. Nas duas vezes isso foi de grande ajuda para eu poder ao menos manter a confiança. Mesmo que o fato de tudo ter dado certo na apresentação da faculdade não estivesse me ajudando desta vez!

Eu decidi usar o PowerPoint.  Eu não fico muito à vontade com isso porque já vi apresentações darem errado frequentemente. No entanto, eu nunca vi uma apresentação aqui que não o utilizasse - e aprender a usar o PowerPoint pode ser de grande valia. Eu não tinha certeza, quando fui para a sessão, se eu realmente sabia o suficiente para operar o PowerPoint. (Como saber se sabemos algo o suficiente? Através de sessões de simulação, eu imagino, mas eu não tive acesso ao laptop quando queria).

Quando chegou a hora da apresentação, eu queria muito ir bem - tão bem como as apresentações que ocorreram na semana anterior. Talvez eu quisesse ir bem demais. As apresentações anteriores tinham sido interessantes, informativas e claras, e eu achei que os handouts distribuídos eram bons (eu percebi que o melhor deles deu muitas informações, mas sem exagerar).

Na hora da apresentação, a sessão foi um desastre e me deixou me sentindo desconfortável no trabalho e mesmo preocupada com ele em casa. Eu preciso pensar a razão de uma apresentação simples ter efeitos tão grandes em mim. O PowerPoint não funcionou direito (eu acho que cliquei na coisa errada), meus esforços para permanecer calma e relaxada não funcionaram e minha voz ficou trêmula - essa foi, pelo menos, a minha sensação. Na verdade, minha colega disse que eu parecia calma na hora, apesar do que eu estava sentindo (não sei se ela estava dizendo a verdade ou apenas tentando me ajudar). Quando eu penso na situação, percebo que se tivesse pensado que eu ainda tinha uma aparência calma (apesar do modo como me sentia), eu poderia ter retomado o controle. Da forma como tudo aconteceu, eu acabei indo de mal ao pior, e sabia que isso estava claro porque minha chefe, a Sra. Shaw, começou a responder as perguntas que as pessoas fizeram para mim.

Estou pensando sobre aquele momento horrível de novo -  tudo aconteceu semana passada. Estou lendo o que escrevi mais cedo sobre ela. Nesta releitura, percebo que já tenho uma perspectiva um pouco diferente. Eu acho que tudo não foi tão ruim como pareceu em um primeiro momento. Vários colegas me disseram, depois, que a Sra. Shaw sempre se adianta para responder as perguntas daquela maneira, e comentaram que eu lidei bem com as intrusões. Isso é bem interessante, porque minhas apresentações na universidade não envolveram pessoas com esse tipo de mania de controlar tudo. Eu preciso refletir sobre como agir da próxima vez para prevenir que essas interrupções ocorram e para lidar melhor com a situação assim que ela começar a acontecer*. Seria bom procurar alguns livros sobre assertividade.

Eu já falei com a Sra. Shaw também. Percebi que minha confiança nela já não é tão grande, e que ao mesmo tempo ainda me sinto um pouco contrariada. No entanto, estou me sentindo mais positiva, de forma geral, e estou conseguindo começar a analisar o que poderia ter feito melhor na apresentação. É interessante observar essa minha mudança de atitude esta semana. Eu preciso refletir sobre o processo de fazer uma boa apresentação desde seus elementos mais básicos. Não tenho mais certeza sobre minha confiança nas minhas habilidades de atriz*. Atuar me ajuda a projetar e ritmar minha voz, mas eu não estava tentando transmitir a fala de outra pessoa, e sim a minha própria voz, e eu preciso ser capaz de discutir assuntos, ao invés de simplesmente recitar algumas linhas*.

Eu provavelmente vou usar o PowerPoint novamente. Olhei o manual e ele sugere que nós devemos utilizá-lo como uma ferramenta - e não deixar ele dominar e se tornar o meio da apresentação ela mesma. Eu acho que estava fazendo isso. Eu preciso não apenas saber como usar, mas também me sentir confiante o suficiente com seu uso para não me perder nas situações em que algo dê errado. Isso significa entender mais o programa do que apenas saber executar uma lista de ações*. Eu também vou continuar tentando ter acesso ao laptop para usar nas minhas simulações, já que isso  vai me ajudar a resolver alguns problemas nas próximas vezes.

Eu lembro que a unidade de Ensino & Docência da UniSA tinha alguns recursos para ajudar os alunos a preparar apresentações. Eu voltei a visitar o site e refleti sobre o que eu fiz, comparando com suas sugestões. Nas próximas vezes, vou gastar mais tempo para me preparar e treinar a utilização do PowerPoint (tanto com o laptop, como com o computador do meu trabalho)*. Vou chegar mais cedo no dia para testar o equipamento e também para me preparar para as perguntas que talvez tenha que responder*.  É possível que isso me ajude a solucionar eventuais problemas e aumente minha confiança antes de começar a apresentação.

Enquanto escrevo isso, percebo como foi útil revisitar o que escrevi antes. Parece que estou conseguindo ver a situação de maneira diferente. A primeira vez que escrevi sobre isso, senti que a apresentação foi horrível e que eu nunca conseguiria fazer nada diferente. Mais tarde eu percebi que eu não sabia algumas coisas na hora (por exemplo sobre o costume da Sra. Shaw de interromper os outros). Eu também reconheci algumas áreas em que não fiz as coisas corretamente. No momento eu não consegui ver tudo isso, toda a minha baixa autoestima estava me impedindo. Saber onde eu errei e admitir os erros para mim mesma me dá a chance de melhorar na próxima vez - e talvez ajudar a Sra. Shaw a melhorar seu comportamento em relação a todos nós!

  • Coloquei asteriscos nos pontos aos quais preciso me dedicar para me aperfeiçoar.

     

 

Esse relato mostra uma reflexão bastante profunda, que incorpora o reconhecimento de que os pontos de referências que balizam a observação de um evento podem mudar.

 

  • O auto-questionamento é evidente (um diálogo interno aparece o tempo inteiro), com reflexões sobre diferentes visões do seu próprio comportamento (visões dos outros e dela mesma).
  • Mariana leva em conta as visões e as razões de outras pessoas e as utiliza para fazer uma autocrítica.
  • Ela reconhece como experiências prévias e os pensamentos (dela e dos outros) interferem na produção de seu comportamento.
  • Existe, claramente, um distanciamento do evento. Ela colabora para seu próprio aprendizado com a experiência ao dividir claramente (com o sistema de asteriscos) os processos reflexivos dos pontos mais objetivos que ela deseja aprender.
  • Ela reconhece que os pontos de referência pessoais podem mudar de acordo com o estado emocional com o qual ela está escrevendo, com a aquisição de novas informações, a revisão de ideias e com o efeito da passagem do tempo.

 

(Fonte:  Moon, J. (2004). A Handbook of Reflective and Experiential Learning. Theory and Practice.  RoutledgeFalmer (Taylor & Francis Group), Londres. Reprodução autorizada.)


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